POESIAS CAIPIRAS

Rosa, num vô tiesquecê...

Hoje, acordei cos zóio vermeio
Acho que andei chorano durmino
O trabiceiro moiado...na ideia veio
A lembrança dum amor de minino...
Ela oiô pra mim a primeira veiz
E encheu meu coração de paxão
A gente tava recoieno as reis
Mas tive que pará pra acarmá o coração
Um dia nóis se encontremo no currá
E me deu uma tremedeira danada
Tropecei numa talba sorta e pá
Cai nos braço da Rosa, minha amada
Que assustada, não sabia o que fazê
Foi intão que puxei o seu pescoço
E o seu rosto ficou assim vê com vê
Lasquei um beijo daqueles de desintupi poço
Quase desmaiemo de farta de ar
Mais costumemo logo cum esses bejo
Discubrimo junto o quiera amar
E o quiera tumen senti desejo
E nóis amemo muito, cumo ninguém amô
Até os pai dela discubri e separá ela "d'eu"
E nóis sofreu muito e inté o céu chorô
Quando levaro imbora o amô que era meu...
Picano o fumo pro meu cigarro de paia
Essas lembrança inda machuca demais
Por que o tempo se foi, mas o amor incaia
E fica teimoso sem isquecê nunca mais...

O CAIPIRA E A CORRUPÇÃO

NÓS QUE SÊMO CAIPIRA, NÓIS QUE NACÊMO NO SERTÃO
MUITAS DA VÊIS FALEMO ERRADO E OCÊIS RÍ
MAIS PODE RÍ, NÓIS NUM LIGA NÃO
NÓIS SABE O QUE É SÊ INGNORANTE, É NÃO SABÊ AS COISA, UÉ;
NÓIS NUM TÊVE CUMO ISTUDÁ,
E QUEM TÊVE TUDO E RÍ DA GENTE...O QUE É?
CAPINÁ, CORTÁ CANA DE SÓR A SÓR,
CHEGÁ IN CASA CANSADO QUE NEM TOMÁ BANHO DÁ
E LEVANTÁ CÊDO DE NOVO PRA NÃO SE ATRASÁ;
ONDE TÁ O TEMPO PRA GENTE PODÊ ISTUDÁ?
DE VEIS EM QUANDO EU ASSISTO TV
E VEJO OS CARA ISTUDADO SÊ PRÊSO PORQUE ROBÔ;
NÓIS NUM ISTUDA, MAS NÓS NUM RÓBA,
PENSO QUE PÁ ROBÁ TEM QUE SÊ DOTÔ;
PORQUE ASSISTÍ O QUE SE PASSÔ EM BRASÍLIA,
OS DEPUTADO E TUMÉM SENADÔ,
COLOCANO DINHEIRO NA CUECA E NAS MEIA
ROBANO DE NÓIS, POBRE TRABAIADÔ
MAIS PRÊLES NÃO TEM CASTIGO NEM CADEIA,
NÓIS QUE POIS ELES LÁ QUANDO A GENTE VOTÔ;
QUANDO SERÁ QUE AS PÔCA VERGONHA,
VÃO ACABÁ PRO BRASIR MIORÁ?
SERÁ QUE NÓIS CAIPIRA TEMO QUE TOMÁ AS RÉDIA
PRA FAZÊ ESSE BRASIR GALOPÁ?

A VACA MAIADA

EU VI A VACA MAIADA SE AJOEIÁ NESSE CHÃO,
ELA OIAVA P'RA BAIXO, COMO QUEM FAZIA ORAÇÃO
CORRI P'RA JUNTO DELA, P'RA VÊ O QUE ACONTECIA
MAS ELA NADA DIZIA E EU VIA QUE ELA SENTIA
SUA HORA DE DEIXÁ O SERTÃO...
A MAIADA ERA MUITO VÉIA, HÁ MUITO TEMPO CÁ GENTE
E NÓIS DAVA TUDO P'RA ELA, TINHA UMA VIDA DECENTE
TUDO ISSO EM TRÔCO, DO QUE ELA FEIZ PELA GENTE
TRATANDO DE TODA A FAMÍA COM SEU LEITE FORTE E QUENTE...
E HOJE ELA SE DESPEDIA E SEU OIÁ AGRADECIA A DEUS NOSSO SINHÔ,
POIS P'RA NÓIS ELA NUM ERA NEM VACA, NEM ANIMÁ
MAIS UMA AMIGA QUERIDA QUE VEIO P'RA NÓIS AJUDÁ...

CIÚME É COISA DO CAPETA...

LEVANTEI DE MADRUGADINHA, TAVA UM VENTO FORTE...UM FRIO
PASSEI RAPIDIM UM CAFÉ E APRESSEI OS MEUS PASSOS NO TRIO,
CHEGUEI NA ROÇA SUANO, APESAR DO FRIO QUE TAVA
METÍ A ENXADA NO EITO, ENQUANTO O VENTO SOPRAVA
A ENXADA CORTAVA O MATO E EM MEUS PENSAMENTOS SURGIA,
UMA DESCONFIANÇA BOBA, QUE A CADA MINUTO CRESCIA;
ME LEMBRAVA DE UM OUTRO DIA QUANDO CHEGUEI DO TRABAIO,
QUEM TAVA PARADO NA PORTA ERA O CUMPADI ZÉ CARVAIO,
CUNVERSEMO, DISCUNVERSEMO E NUM VÍ RAZÃO PRA VISITA,
MAIS FIQUEI CALADO E PENSANO NAQUELA VISITA ESQUISITA;
BOTEI NAS COSTA A ENXADA, PEGUEI O RUMO DA VORTA
COS PENSAMENTO FERVENO PAREI EM SILÊNCIO NA PORTA;
FOI AÍ QUE ESCUITEI OS GEMIDO DA MUIÉ QUE MAIS AMEI;
NUM ACESSO DE REIVA, PEGUEI A GASOLINA E O FÓSSO
E ELA E CASA QUEIMEI;
SENTEI PRA ASSISTÍ O MEU FEITO QUANDO O CUMPADI CHEGOU,
SEM INTENDÊ PERGUNTEI...
-O QUE CÊ FAZ AQUI MAIS SEU DOTÔ?
ESSE É O DOTÔ DENTISTA QUE TRUCE PRÊLE RANCÁ,
O DENTE DE SUA MUIÉ QUE TAVA DUENO PRA DANÁ;
NISSO SENTI A CABEÇA QUERENDO SAÍ DO LUGÁ,
EU ESCUITAVA OS GEMIDO SEM UM SIGUNDO PARÁ;
E HOJE INDA TÔ PRÊSO PRO MEU CRIME PAGÁ,
MAIS TANTO FEZ, TANTO FAZ, EU SEI QUE NÃO VÔ TÊ PAIZ
INTÉ MINHA MORTE CHEGÁ...